terça-feira, 13 de maio de 2014

Exercícios sobre crase e sinais de pontuação



Ciep Brizolão 141 Vereador Saida Tanus José
Professora: Elane de Azevedo Campos. Turma: _____ Formação de Professores

Noite de Almirante
Machado de Assis

Deolindo Venta-Grande (era uma alcunha de bordo) saiu do arsenal de marinha e enfiou pela rua de Bragança. Batiam três horas da tarde. Era a fina flor dos marujos e, de mais, levava um grande ar de felicidade nos olhos. A corveta dele voltou de uma longa viagem de instrução, e Deolindo veio à terra tão depressa alcançou licença. Os companheiros disseram-lhe, rindo:
-Ah! Venta-Grande!
Que noite de almirante vai você passar! ceia, viola e os braços de Genoveva. Colozinho de Genoveva...
Deolindo sorriu. Era assim mesmo, uma noite de almirante, como eles dizem, uma dessas grandes noites de almirante que o esperava em terra. Começara a paixão três meses antes de sair a corveta. Chamava-se Genoveva, caboclinha de vinte anos, esperta, olho negro e atrevido. Encontraram-se em casa de terceiro e ficaram morrendo um pelo outro, a tal ponto que estiveram prestes a dar uma cabeçada, ele deixaria o serviço e ela o acompanharia para a vila mais recôndita do interior.
A velha Inácia, que morava com ela, dissuadiu-os disso; Deolindo não teve remédio senão seguir em viagem de instrução. Eram oito ou dez meses de ausência.
Como fiança recíproca, entenderam dever fazer um juramento de fidelidade.
-Juro por Deus que está no céu. E você?
-Eu também.
-Diz direito.
-Juro por Deus que está no céu; a luz me falte na hora da morte.
Estava celebrado o contrato. Não havia descrer da sinceridade de ambos; ela chorava doidamente, ele mordia o beiço para dissimular. Afinal separaram-se, Genoveva foi ver sair a corveta e voltou para casa com um tal aperto no coração que parecia que "lhe ia dar uma coisa". [...]
Nisto [Deolindo] chegou à Gamboa, passou o cemitério e deu com a casa fechada. Bateu, falou-lhe uma voz conhecida, a da velha Inácia, que veio abrir-lhe a porta com grandes exclamações de prazer
. Deolindo, impaciente, perguntou por Genoveva.
-Não me fale nessa maluca, arremeteu a velha. [...]- Mas que foi? que foi?
A velha disse-lhe que descansasse, que não era nada, uma dessas coisas que aparecem na vida; não valia a pena zangar-se. Genoveva andava com a cabeça virada...
-Mas virada por quê?
-Está com um mascate, José Diogo. Conheceu José Diogo, mascate de fazendas?
Está com ele. Não imagina a paixão que eles têm um pelo outro. Ela então anda maluca. Foi o motivo da nossa briga.[...]
-Onde mora ela?
-Na praia Formosa, antes de chegar à pedreira, uma rótula pintada de novo. [...]
-Que é isso? exclamou espantada. Quando chegou? Entre, seu Deolindo. [...]
-Sei tudo, disse ele.
-Quem lhe contou?
Deolindo levantou os ombros.
-Fosse quem fosse, tornou ela, disseram-lhe que eu gostava muito de um moço?
-Disseram.
-Disseram a verdade.
Deolindo chegou a ter um ímpeto; ela fê-lo parar só com a ação dos olhos. Em seguida disse que, se lhe abrira a porta, é porque contava que era homem de juízo.
Contou-lhe então tudo, as saudades que curtira, as propostas do mascate, as suas recusas, até que um dia, sem saber como, amanhecera gostando dele.
-Pode crer que pensei muito e muito em você. Sinhá Inácia que lhe diga se não chorei muito... Mas o coração mudou... Mudou... Conto-lhe tudo isto, como se estivesse diante do padre, concluiu sorrindo. [...]
A esperança, entretanto, começava a desampará-lo e ele levantou-se definitivamente para sair. [...]
Como ele se despedisse, Genoveva acompanhou-o até à porta para lhe agradecer ainda uma vez o mimo [um brinco], e provavelmente dizer-lhe algumas coisas meigas e inúteis. A amiga, que deixara ficar na sala, apenas lhe ouviu esta palavra: "Deixa disso, Deolindo"; e esta outra do marinheiro: "Você verá." Não pôde ouvir o resto, que não passou de um sussurro.
Deolindo seguiu, praia fora, cabisbaixo e lento, não já o rapaz impetuoso da tarde, mas com um ar velho e triste, ou, para usar outra metáfora de marujo, como um homem "que vai do meio caminho para terra". Genoveva entrou logo depois, alegre e barulhenta. Contou à outra a anedota dos seus amores marítimos, gabou muito o gênio do Deolindo e os seus bonitos modos; a amiga declarou achá-lo grandemente simpático.
-Muito bom rapaz, insistiu Genoveva. Sabe o que ele me disse agora?
-Que foi?
-Que vai matar-se.
-Jesus!
-Qual o quê! Não se mata, não. Deolindo é assim mesmo; diz as coisas, mas não
faz. Você verá que não se mata. Coitado, são ciúmes. Mas os brincos são muito engraçados.

-Eu aqui ainda não vi destes.
-Nem eu, concordou Genoveva, examinando-os à luz. [...]
A verdade é que o marinheiro não se matou. No dia seguinte, alguns dos companheiros bateram-lhe no ombro, cumprimentando-o pela noite de almirante, e pediram-lhe notícias de Genoveva, se estava mais bonita, se chorara muito na ausência, etc. Ele respondia a tudo com um sorriso satisfeito e discreto, um sorriso de pessoa que viveu uma grande noite. Parece que teve vergonha da realidade e preferiu mentir.

(Disponível em: http://www.biblio.com.br/default
z.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/MachadodeAssis/noitedealmirante.htm. Acesso em 31/07/2013.)

1. Para que possamos conhecer melhor o comportamento de determinado personagem, característica importante da estética realista, geralmente o narrador nos fornece algumas pistas. Essas pistas ajudam a compor fisicamente o personagem, bem como revelam alguns traços da personalidade para entendermos melhor suas ações e condutas.
Em relação ao texto que você acabou de ler,
“Noite de almirante”, responda:

a)      Deolindo tinha uma particularidade física e recebia até uma alcunha ou apelido em função disso. Qual era o apelido de Deolindo?
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b)      O mesmo se dá com Genoveva. O narrador, no terceiro parágrafo, descreve fisicamente Genoveva. Quais são as características físicas de Genoveva? Além das indicações físicas, o narrador lhe atribui uma qualidade. Que qualidade especial tem Genoveva?
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2-      . Por quanto tempo Deolindo ficou fora e o que os amigos lhe disseram após retorno?
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3-      . O que Deolindo e Genoveva prometem um ao outro?
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4-      . Quem descumpre a promessa e por quê?
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5-                  Uma das constantes da ficção machadiana é o conflito entre ser e parecer, entre a essência e a aparência, sob a qual a verdade se esconde. O que Deolindo escondeu de seus amigos?
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6-                 Sabendo que o uso da crase acontece toda vez que acontece a fusão da preposição 'a' com o artigo 'a' - e, portanto, a crase só acontece diante de palavras femininas. Uma boa dica para saber se deve ou não usar crase, é substituir a palavra feminina por uma masculina. Na frase "fui à feira", por exemplo. "Substitua 'feira' por 'supermercado'. Se o 'a' virar 'ao', o 'a' em questão tem que receber o acento grave.
Expressões adverbiais femininas também pedem crase. "Em frases como 'dobre à direita', 'virar à esquerda', 'comprar à vista', você utilizará crase. Já em 'comprou a prazo', a crase é proibida, já que 'prazo' é palavra masculina".
A crase também é utilizada em expressões que indicam hora, nas expressões 'à moda de' e 'à medida que'. Lembrando que 'à moda de' muitas vezes vem implícita. "Mesmo assim você usará a crase. Por exemplo: 'Ele comprou sapatos à Luís XV'. Muita gente pensa que não tem crase porque Luís é palavra masculina. Mas são sapatos 'à moda de Luís XV'".
A crase nunca vem diante de palavras masculinas, como 'ele veio a pé'. "Também não devemos usar crase antes de verbos". "Ele saiu a correr" é um exemplo. Expressões de palavras repetidas também não recebem crase, como 'face a face', 'cara a cara' e 'lado a lado'.
·         De acordo com a explicação acima retire do texto três sentenças que fazem o uso da crase.
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7-                 Sabemos que os sinais de pontuação são os operadores da textualidade. Eles são indicadores da intencionalidade discursiva. Exemplifique, retirando do texto
a)      Uma frase imperativa.
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b)      Uma frase interrogativa.
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c)      Uma frase que indica supressão de pensamento.
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d)     Uma frase interrogativa.
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