Ciep Brizolão 141
Vereador Saida Tanus José
Professora: Elane de
Azevedo Campos. Turma: _____ Formação de Professores
Noite de
Almirante
Machado
de Assis
Deolindo
Venta-Grande (era uma alcunha de bordo) saiu do arsenal de marinha e enfiou
pela rua de Bragança. Batiam três horas da tarde. Era a fina flor dos marujos
e, de mais, levava um grande ar de felicidade nos olhos. A corveta dele voltou
de uma longa viagem de instrução, e Deolindo veio à terra tão depressa alcançou
licença. Os companheiros disseram-lhe, rindo:
-Ah!
Venta-Grande!
Que noite
de almirante vai você passar! ceia, viola e os braços de Genoveva. Colozinho de
Genoveva...
Deolindo sorriu. Era assim mesmo,
uma noite de almirante, como eles dizem, uma dessas grandes noites de almirante
que o esperava em terra. Começara a paixão três meses antes de sair a corveta.
Chamava-se Genoveva, caboclinha de vinte anos, esperta, olho negro e atrevido.
Encontraram-se em casa de terceiro e ficaram morrendo um pelo outro, a tal
ponto que estiveram prestes a dar uma cabeçada, ele deixaria o serviço e ela o
acompanharia para a vila mais recôndita do interior.
A velha
Inácia, que morava com ela, dissuadiu-os disso; Deolindo não teve remédio senão
seguir em viagem de instrução. Eram oito ou dez meses de ausência.
Como
fiança recíproca, entenderam dever fazer um juramento de fidelidade.
-Juro por
Deus que está no céu. E você?
-Eu
também.
-Diz
direito.
-Juro por
Deus que está no céu; a luz me falte na hora da morte.
Estava
celebrado o contrato. Não havia descrer da sinceridade de ambos; ela chorava
doidamente, ele mordia o beiço para dissimular. Afinal separaram-se, Genoveva
foi ver sair a corveta e voltou para casa com um tal aperto no coração que
parecia que "lhe ia dar uma coisa". [...]
Nisto
[Deolindo] chegou à Gamboa, passou o cemitério e deu com a casa fechada. Bateu,
falou-lhe uma voz conhecida, a da velha Inácia, que veio abrir-lhe a porta com
grandes exclamações de prazer
.
Deolindo, impaciente, perguntou por Genoveva.
-Não me
fale nessa maluca, arremeteu a velha. [...]- Mas que foi? que foi?
A velha
disse-lhe que descansasse, que não era nada, uma dessas coisas que aparecem na
vida; não valia a pena zangar-se. Genoveva andava com a cabeça virada...
-Mas
virada por quê?
-Está com
um mascate, José Diogo. Conheceu José Diogo, mascate de fazendas?
Está com
ele. Não imagina a paixão que eles têm um pelo outro. Ela então anda maluca.
Foi o motivo da nossa briga.[...]
-Onde
mora ela?
-Na praia
Formosa, antes de chegar à pedreira, uma rótula pintada de novo. [...]
-Que é
isso? exclamou espantada. Quando chegou? Entre, seu Deolindo. [...]
-Sei tudo,
disse ele.
-Quem lhe
contou?
Deolindo
levantou os ombros.
-Fosse
quem fosse, tornou ela, disseram-lhe que eu gostava muito de um moço?
-Disseram.
-Disseram
a verdade.
Deolindo
chegou a ter um ímpeto; ela fê-lo parar só com a ação dos olhos. Em seguida
disse que, se lhe abrira a porta, é porque contava que era homem de juízo.
Contou-lhe
então tudo, as saudades que curtira, as propostas do mascate, as suas recusas,
até que um dia, sem saber como, amanhecera gostando dele.
-Pode
crer que pensei muito e muito em você. Sinhá Inácia que lhe diga se não chorei
muito... Mas o coração mudou... Mudou... Conto-lhe tudo isto, como se estivesse
diante do padre, concluiu sorrindo. [...]
A
esperança, entretanto, começava a desampará-lo e ele levantou-se
definitivamente para sair. [...]
Como ele
se despedisse, Genoveva acompanhou-o até à porta para lhe agradecer ainda uma
vez o mimo [um brinco], e provavelmente dizer-lhe algumas coisas meigas e
inúteis. A amiga, que deixara ficar na sala, apenas lhe ouviu esta palavra:
"Deixa disso, Deolindo"; e esta outra do marinheiro: "Você
verá." Não pôde ouvir o resto, que não passou de um sussurro.
Deolindo
seguiu, praia fora, cabisbaixo e lento, não já o rapaz impetuoso da tarde, mas
com um ar velho e triste, ou, para usar outra metáfora de marujo, como um homem
"que vai do meio caminho para terra". Genoveva entrou logo depois,
alegre e barulhenta. Contou à outra a anedota dos seus amores marítimos, gabou
muito o gênio do Deolindo e os seus bonitos modos; a amiga declarou achá-lo
grandemente simpático.
-Muito
bom rapaz, insistiu Genoveva. Sabe o que ele me disse agora?
-Que foi?
-Que vai
matar-se.
-Jesus!
-Qual o
quê! Não se mata, não. Deolindo é assim mesmo; diz as coisas, mas não
faz. Você
verá que não se mata. Coitado, são ciúmes. Mas os brincos são muito engraçados.
-Eu aqui
ainda não vi destes.
-Nem eu,
concordou Genoveva, examinando-os à luz. [...]
A verdade
é que o marinheiro não se matou. No dia seguinte, alguns dos companheiros
bateram-lhe no ombro, cumprimentando-o pela noite de almirante, e pediram-lhe
notícias de Genoveva, se estava mais bonita, se chorara muito na ausência, etc.
Ele respondia a tudo com um sorriso satisfeito e discreto, um sorriso de pessoa
que viveu uma grande noite. Parece que teve vergonha da realidade e preferiu
mentir.
(Disponível
em: http://www.biblio.com.br/default
z.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/MachadodeAssis/noitedealmirante.htm.
Acesso em 31/07/2013.)
1. Para
que possamos conhecer melhor o comportamento de determinado personagem,
característica importante da estética realista, geralmente o narrador nos
fornece algumas pistas. Essas pistas ajudam a compor fisicamente o personagem,
bem como revelam alguns traços da personalidade para entendermos melhor suas
ações e condutas.
Em
relação ao texto que você acabou de ler,
“Noite de
almirante”, responda:
a)
Deolindo tinha uma particularidade física e recebia
até uma alcunha ou apelido em função disso. Qual era o apelido de Deolindo?
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b) O mesmo se dá com Genoveva. O
narrador, no terceiro parágrafo, descreve fisicamente Genoveva. Quais são as
características físicas de Genoveva? Além das indicações físicas, o narrador
lhe atribui uma qualidade. Que qualidade especial tem Genoveva?
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2- . Por quanto tempo Deolindo ficou
fora e o que os amigos lhe disseram após retorno?
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3- . O que Deolindo e Genoveva prometem
um ao outro?
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4- . Quem descumpre a promessa e por
quê?
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5-
Uma das constantes da ficção machadiana é o
conflito entre ser e parecer, entre a essência e a aparência, sob a qual a
verdade se esconde. O que Deolindo escondeu de seus amigos?
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6-
Sabendo que o uso da crase acontece toda
vez que acontece a fusão da preposição 'a' com o artigo 'a' - e, portanto, a
crase só acontece diante de palavras femininas. Uma boa dica para saber se deve
ou não usar crase, é substituir a palavra feminina por uma masculina. Na frase
"fui à feira", por exemplo. "Substitua 'feira' por 'supermercado'.
Se o 'a' virar 'ao', o 'a' em questão tem que receber o acento grave.
Expressões adverbiais femininas também pedem crase. "Em frases como 'dobre à direita', 'virar à esquerda', 'comprar à vista', você utilizará crase. Já em 'comprou a prazo', a crase é proibida, já que 'prazo' é palavra masculina".
Expressões adverbiais femininas também pedem crase. "Em frases como 'dobre à direita', 'virar à esquerda', 'comprar à vista', você utilizará crase. Já em 'comprou a prazo', a crase é proibida, já que 'prazo' é palavra masculina".
A crase também é utilizada em expressões que
indicam hora, nas expressões 'à moda de' e 'à medida que'. Lembrando que 'à
moda de' muitas vezes vem implícita. "Mesmo assim você usará a crase. Por
exemplo: 'Ele comprou sapatos à Luís XV'. Muita gente pensa que não tem crase
porque Luís é palavra masculina. Mas são sapatos 'à moda de Luís XV'".
A crase nunca vem diante de palavras masculinas,
como 'ele veio a pé'. "Também não devemos usar crase antes de verbos".
"Ele saiu a correr" é um exemplo. Expressões de palavras repetidas
também não recebem crase, como 'face a face', 'cara a cara' e 'lado a lado'.
·
De acordo com a explicação acima retire do texto
três sentenças que fazem o uso da crase.
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7-
Sabemos que os sinais de pontuação são
os operadores da textualidade. Eles são indicadores da intencionalidade
discursiva. Exemplifique, retirando do texto
a)
Uma frase imperativa.
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b)
Uma frase interrogativa.
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c)
Uma frase que indica supressão de
pensamento.
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d)
Uma frase interrogativa.
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